CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE BENS CULTURAIS

25 abril 2012

Kamikoya, a paixão pelo papel artesanal washi


O holandês Rogier Uitenboogaart trabalhava numa empresa de encadernação artesanal de livros em seu país quando teve a oportunidade de ver pela primeira vez uma folha de washi, o papel japonês. Ele ficou encantado com a qualidade, textura e transparência da peça e resolveu viajar ao Japão para pesquisar sobre essa milenar técnica nipônica.

Em 1980, Rogier passou a percorrer as principais regiões japonesas onde existia a tradição de produção de
washi. Ele relembra que “conforme aprofundava a pesquisa, ficava cada vez mais fascinado porque descobri que todo o processo da confecção do papel estava intimamente relacionada com outros elementos culturais e também muito ligado com a natureza, já que utiliza a casca do caule de alguns tipos de plantas para produzir a fibra. Foi uma surpresa porque era diferente do papel artesanal europeu, que é feito reciclando tecidos de algodão”.

Depois de um ano de pesquisa, ele decidiu viver no Japão para trabalhar com o
washi e escolheu a província de Kochi para morar. Desde antigamente até hoje, ela é a maior produtora do país da matéria-prima para a fabricação do papel tradicional, ou seja, das plantas kōzo e mitsumata, das quais se extrai a fibra.

Rogier produz o
washi com uma técnica antiga, que já está deixando de ser praticada no Japão, mas que ele considera natural e ecológica. O próprio se encarrega de todo o processo produtivo, desde o cultivo das plantas que fornecerão a fibra. Atualmente, 70% da matéria-prima usada para fazer washi é importada de outros países e a produção no Japão em larga escala se tornou inviável economicamente. Ele também faz questão de não usar nenhum produto químico ou poluente. As folhas de washi são muito usadas para a produção de artesanato e para a decoração de interiores e revestimento de parede. Rogier também confecciona lustres com o papel, colando em armações que faz com os cipós que ele mesmo coleta na floresta.

Recuperar a tradição

Rogier, primeiramente, residiu na cidade de Ino e depois, em 1992, transferiu-se para Yusuhara, onde, posteriormente, desenvolveu um projeto junto com seis famílias de agricultores para recuperar a antiga tradição da região como produtora das plantas para fazer washi.
Atualmente, as montanhas estão tomadas pelo reflorestamento de sugi (cedro), mas, até algumas décadas atrás, o povo cultivava as altas e íngremes encostas com plantas comestíveis e também com kōzo e mitsumata. Esta última tinha grande importância econômica porque era adquirida pelo governo para confeccionar as cédulas de dinheiro.

Rogier conta com orgulho que “neste ano, o grupo plantou mil pés de
mitsumata. O projeto também tem como objetivo oferecer alternativa de trabalho e renda para os moradores locais”. A comunidade onde ele reside fica longe da cidade, isolada no fundo de um vale. Faça o seu papel
Em 2006, a atividade com a comunidade foi incrementada com a inauguração de uma oficina de papel e pousada, chamada Kamikoya. Os ingredientes utilizados na refeição da pousada são fornecidos pelos próprios agricultores que participam do projeto.

Os visitantes, mesmo não sendo hóspedes, podem participar de cursos de produção de papel, desde experimentais até avançados.


Além da produção do
washi, os cursos incluem a identificação das plantas utilizadas para tirar a fibra, que estão plantadas próximas da oficina, e coleta das folhas e ramos que servirão para misturar com a polpa e decorar o papel.




Rethalahado de http://curtindoojapao.com
Texto e fotos: Reginaldo Okada©
Coordenação e pesquisa: Satomi Shimogo


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