CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO DE BENS CULTURAIS

15 setembro 2015

A digitalização a serviço da documentação da conservação



Link para o texto original: http://www.cool.conservation-us.org/jcms/issue7/0111Moore.pdf Acessado em: 06.9.2015.

Algumas questões devem ser consideradas e levadas em conta como irão ser feitas antes das instituições de conservação adotar um equipamento e um software. O profissional de conservação poderá se beneficiar da digitalização da documentação usando softwares como bancos de dados e equipamentos, como câmeras digitais e scanners. A tecnologia digital fará a documentação e a conservação mais facilmente acessível, em custo/ beneficio, aumentando a consistência e a precisão dos dados gravados reduzindo os espaços de armazenamento físico. A principal desvantagem para digitalização na conservação é a manutenção de acesso à informação para o futuro; o ritmo da mudança da tecnologia tem sérias implicações na recuperação de dados a partir de qualquer meio de leitura por máquina.

Quais tecnologias podem ser utilizadas na documentação da conservação

Digitalização:
  • Processo de conversão de dados em um formato digital.
  • As informações estarão em formato digital quando gravadas, processadas e armazenadas por meios relacionados com a informática em código binário (como 0s e 1s).
  • Um dos principais métodos de conservação de documentação, textual e visual.
  • Com os computadores tornar-se muito mais fácil escrever e editar relatórios, bem como gerenciar informações contidas em bancos de dados (Sayre, 1986);
  • As três principais ferramentas tecnológicas que estão sendo usadas atualmente são bancos de dados, câmeras digitais e scanners.

Bases de dados ou metadados:
  • Podem ser basicamente definidos como "dados que descrevem os dados", ou seja, são informações úteis para identificar, localizar, compreender e gerenciar os dados, geralmente uma informação inteligível por um computador.
  • O tipo de banco de dados que estamos mais familiarizados é o formulário que pode ser acessado e manipulado por software de computador onde a informação está em um formato digital, por exemplo, uma tabela pode ser usada para documentar informações sobre conservadores no departamento, quando o nome de um conservador é preenchido para um novo objeto o restante das informações sobre o conservador pode ser chamado imediatamente, sem digitá-lo novamente. (Keene, 1996)
  • Os metadados para preservação visam a apoiar e facilitar a retenção a longo prazo da informação digital (OCLC/RLG, 2001).

Câmeras digitais:
  • A possibilidade de imagens instantâneas para informações sobre o estado e os relatórios de tratamento, seja armazenando no computador ou imprimindo, o que dá mais praticidade ao processo.
  • As imagens digitais podem ser visualizadas na câmera antes de serem salvas e, portanto, o conservador pode decidir se a imagem realmente mostra o que pretendia ser revelado.
  • Coma as câmeras digitais podemos fazer ampliações em imagens para ver melhor os detalhes.
  • Em “RECOMENDAÇÕES PARA DIGITALIZAÇÃO DE DOCUMENTOS ARQUIVÍSTICOS”, elaborada por especialistas do Arquivo Nacional (CONARQ) e aprovada na 53ª reunião plenária do CONARQ, realizada no dia 20 de maio de 2009, o uso de câmeras digitais implica no uso de mesas de reprodução, para a garantia do paralelismo necessário a uma boa qualidade da imagem digital gerada, além de sistemas de iluminação artificial compatíveis, necessariamente com baixa intensidade de calor e o mínimo de tempo de exposição necessário para não comprometer o estado de conservação dos documentos arquivísticos originais. (CONARQ, 2010)
  • Recomenda-se o uso de câmeras de médio e grande formato com backs digitais (foto Dispositivo de captura digital acoplado a uma câmera fotográfica dotada de conjunto óptico convencional ou hibrido.) para geração de fotografias de alta qualidade, e para a captura digital de documentos em grandes formatos como mapas e plantas. Sempre que possível, deve-se privilegiar sistemas planetários de captura (foto) para evitar riscos de manuseio dos originais a serem digitalizados. (CONARQ, 2010).




Scanners:
  • São usados para transferir uma imagem de papel existente ou documento para um formato digital, onde poderá ser manipulado usando um programa de software de imagens.

Entre os escâneres encontramos:
  • Escâneres de mesa (flat bed): Indicado para os documentos planos em folha simples e ampliações fotográficas contemporâneas em bom estado de conservação. Este tipo de equipamento não se aplica a documentos encadernados.
  • Escâneres planetários: Este tipo de equipamento utiliza uma unidade de captura semelhante a uma câmera fotográfica, uma mesa de reprodução que define a área de escaneamento e uma fonte de luz. São usados para a digitalização de documentos planos em folha simples, de documentos encadernados que necessitem de compensação de lombada, de forma a garantir a integridade física dos mesmos, bem como para os documentos fisicamente frágeis.
  • Escâneres de produção e alimentação automática: A utilização deve ser avaliada, devido a riscos de danos físicos e longevidade de documentos, usa dispositivos mecânicos e ópticos. Os documentos a serem digitalizados neste tipo de equipamento deverão obrigatoriamente passar por uma análise rigorosa de sua estrutura física, seu estado de conservação, bem como a retirada de sujidades e objetos como clips, grampos, fitas adesivas e assemelhados. (CONARQ, 2010).

Permanência de informações:
  • A Permanência de informações é feita por dispositivos capazes de gravar (armazenar) informações (dado). Um dispositivo de armazenamento retém informação, processa informação, ou ambos. Um dispositivo que somente guarda informação é chamado mídia de armazenamento. Dispositivos que processam informações (equipamento de armazenamento de dados) podem tanto acessar uma mídia de gravação portátil, ou podem ter um componente permanente que armazena e obtém dados.

Tipos de dispositivos de armazenamento e capacidades:
  • Por meio magnético, os quais compreendem os Disquetes (floppy disks) e HD’s, conhecidos como disco rígido (hard disks), os Jaz Drives, as fitas DAT, entre outros. (Disquete 3. ½" - 1.44 MB), (HD’s - 4TB)
  • Por meio óptico, os quais compreendem os CDs, DVDs, Blu-Ray etc. (Cd's – 650MB), (DVD's - 4.7 GB ou 8.4 GB camada dupla) e (Blu-Ray – 25GB/ 50GB camada dupla; 100GB/128GB -BDXL.)
  • Por meio eletrônico, memórias de estado sólido ou SSDs (solid state drive) os quais compreendem os cartões de memória e pen drives, mesmo os discos rígidos possuem uma certa quantidade desse tipo de memória funcionando como buffer. (Pen drives - 4TB), (Cartões de Memória MicroSD- 128GB)

Longevidade

  • O Armazenamento tanto por meio magnético ou ópticos geralmente é pensado para ser entre cinquenta e cem anos, desde que em condições de armazenamento adequadas, longe de imãs, alimentos, umidade e poluentes, também protegendo de desgastes.
  • No início, as práticas relacionadas com a preservação digital estavam baseadas na idéia de garantir a longevidade dos arquivos, mas essa preocupação agora está centralizada na ausência de conhecimento sobre as estratégias de preservação digital e o que isso poderá significar na necessidade de garantir a longevidade dos arquivos digitais. (ARELLANO, 2004)

Hardware e software Obsoletos
  • A velocidade da mudança tecnologica, nos aleta a preservação do patrimônio digital, ou seja, de garantir que se tenha o acesso permanente a informação do patrimônio. A informação digital só pode ser lida através de alguns tipo de máquina e tendo acesso a ela é, portanto, dependente da máquina para o funcionamento dos Programas. (Acervo Digital = Hardware + software )
  • Atualmente o período padrão de obsolescência tecnológica é entre dois a cinco anos, o que significa que manter o acesso aos dados será uma responsabilidade permanente. (Garrett, 1996). Uma diferente solução tem de ser encontrada. Profissionais acordaram que a preservação de informações digitais depende de copiá-la em vez de tentar preservar o meio.

Há duas formas principais de copiar as informações: Colheita e Migração.

Migração
A migração é definida como a transferência de informações intactas para outro suporte (Ditzler 1994). A migração é o método cuja finalidade é preservar a integridade do documento/ arquivo/ programa, fazendo uma exata cópia do mesmo na nova geração de tecnologia. Este significa que não só é os dados copiados para um novo meio mas a estrutura da informação e da maneira na qual ela está relacionada, características tais como capacidade de recuperação e relatórios, também serão transferidos intactos.

Colheita (Harvesting)
A outra maneira de copiar a informação digital envolve reformatar as informações para uso em um diferente meio. (Ditzler 1994). A colheita é feita pela reformatação das informações para um formato padrão simples. Isto pode resultar, no entanto, na perda da estrutura do documento e relacionamentos em bancos de dados, computação capacidades e telas gráficas, o que é o que tenta impedir a migração; removendo a estrutura e as relações limita o potencial analítico de documentos de investigação (Hedstrom n.d.). Mas esta maneira de preservar a informação digital é mais fácil do que a migração, colheita deve ser apenas o método de escolha quando é apenas a informação em bruto e não a estrutura e recursos de software que é importante a ser preservada.

Escolhendo e projetando um banco de dados (database)

Há certas decisões a serem tomadas por um conservador ou uma instituição antes de escolher a forma de o sistema de banco de dados.

O primeiro passo consiste em examinar as práticas atuais de documentação de levantamento das formas que são usados para as várias atividades de conservação e decidir, em consulta com os utilizadores das formas, se as formas utilizadas cumprirão as necessidades futuras (Abt, 1986).

Se os usuários solicitarem alterações às formas, em seguida, as modificações devem ser feitas, antes do software e hardware do banco de dados são escolhido.

Num determinado ponto, deve ser decidido se o sistema informatizado irá substituir completamente a documentação em papel ou continuar ao lado.

Uma questão importante a resolver é como os objetos de informações serão mantidos na base de dados.

Saber como os campos de informação serão preenchidos dentro do computador os formulários de notificação.
As decisões sobre o armazenamento terão de ser considerados antes o sistema seja concebido.

Métodos de back-up e sistemas de segurança;

Atividades devem ser pensadas para os próximos cinco, dez e vinte anos , de modo que o tipo de equipamento escolhido para executar o software seja capaz de expandir como o quantidade de documentação da conservação cresce. (Extraído de uma apresentação na 12ª Reunião Anual, Los Angeles, Califórnia, maio 1984 no Instituto Americano para a Conservação da histórico e Trabalho Artístico.)

Controle de Terminologia:

Esta é uma questão que a profissão de conservação tem vindo a discutir, pelo menos desde o início de 1980 e o controle da terminologia é ainda mais importante quando a discussão se volta para a conservação informatizada da documentação. A diversidade de procedimentos na conservação, os materiais envolvidos com os objetos e seus tratamentos é igualada pelos termos utilizados para descreve-los. A digitalização incentiva o controle da terminologia dentro do contexto de documentação; Uma ideal situação, seria que houvesse terminologia normalizada internacionalmente, as quais faria uma troca de informações e busca de documentações mais eficiente em outras instituições.

Acessibilidade

Um dos maiores benefícios da digitalização é que a informação seja mais acessível. Profissionais, interessados na informação física do objeto documentado, pode ter acesso instantâneo aos aos dados, seja por ter o registro de e-mail para ser enviada informações para eles ou se poderem pesquisar o banco de dados através da internet ou em computadores ligados em rede.

A maior reclamação por profissionais não-conservadores é que a informação da documentação é muito detalhada e específica.

Transferir as formas de documentação para um formato pesquisável juntamente com os diferentes campos de dados, deve tornar muito mais fácil para arqueólogos, gestores, educadores e pesquisadores para extrairem a informação específica que eles estão interessados.

Custos

Cada estratégia técnica de preservação e de acesso implica diferentes custos e cronogramas. A preservação digital requer recursos disponíveis permanentemente que começam a se delinear no momento da criação do recurso. Muitos materiais são criados fora dos centros de informação e das bibliotecas. Nesses casos, são os editores e outros criadores de conteúdos que devem adotar os padrões apropriados e as tecnologias que darão subsídios à preservação. Segundo Feeney (1999), “diferentemente da situação que se aplica aos livros, o arquivamento digital requer investimentos relativamente freqüentes para superar a obsolescência rápida produzida pelas mudanças tecnológicas”. Os provedores de material digital, no correr do tempo, precisam investir para criar documentação e metadados, gerando novas formas de material para manter o acesso. Esse investimento deve ser levado em consideração no momento de discutir os direitos de uso e reuso dos objetos digitais. Do mesmo modo, entre os aspectos que devem ser identificados em qualquer estratégia de preservação está a necessidade de contratação e de capacitação de pessoal. (ARELLANO, 2004)

Concluimos que:

A decisão de digitalizar registros de conservação é um passo importante para a instituição, mas que deve ser considerada com cuidado, pois as mídias utilizadas, principalmente de banco de dados, câmeras digitais e scanners, é constantemente acometida de mudanças.

A informação em formato digital é reproduzível sem deterioração dos dados, enquanto que a forma em que os dados são armazenados não é indestrutível.

As principais estratégias de preservação digital encontradas na literatura são : preservação da tecnologia, emulação, migração, encapsulamento e replicação. (CORRÊA, 2010; FERREIRA, 2006;SAYÃO, 2010; THOMAZ e SOARES, 2004)

As questões de gestão devem considerar os usuários atuais, assim como os futuros potenciais utilizadores e na documentação considerar as questões de controle de terminologia.

A digitalização na documentação da conservação tem o potencial de revolucionar a maneira com que as atividades serão relatadas, acedida, armazenada e mantida.

Tem um bom custo benefício, o espaço físico de armazenamento irá diminuir e a precisão e consistência da informação será melhorada.


Bibliografia

CONSELHO NACIONAL DE ARQUIVOS. Carta para preservação do patrimônio arquivístico digital. Rio de Janeiro: 2004.

Recomendações para Digitalização de Documentos Arquivísticos Permanentes. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Arquivos, 2010.


FERREIRA, José Jardel Luciano. Sistemas de Informação, Dispositivos de armazenamento. Araxá/MG, 2009. Disponível em: http://jose-jardel.weebly.com/disp-armazenamento.html Acesso em: 06.9.2015.

Moore, Michelle. CONSERVATION DOCUMENTATION AND THE IMPLICATIONS OF DIGITISATION. In: Journal of Conservation and Museum Studies. Nov, 2001. Disponível em: http://www.cool.conservation-us.org/jcms/issue7/0111Moore.pdf Acessado em: 06.9.2015.

OCLC/RLG. Preservation metadata for digital objects: a review of the state of the art - a white paper. Disponível em: www.oclc.org/research/projects/pmwg/presmeta_wp.pdf>. Acesso em: 10 Set. 2015. REICH, L.; SAWYE

ARELLANO, Miguel Angel. Preservação de documentos digitais. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v33n2/a02v33n2.pdf. Acesso em: 10 Set. 2015.


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